"A ZONA OESTE NÃO É UM LUGAR QUE DEVA SER ESQUECIDO": JESSÉ ANDARILHO EM PRIMEIRA PESSOA
- Flup Festa Literária
- 30 de jun.
- 2 min de leitura

Revelado pelos processos formativos da Flup, Jessé Andarilho é cria de Antares, na Zona Oeste do Rio, e transformou as vivências do território na base de sua literatura. É autor de Fiel (2014), Efetivo variável (2017) e Esquema (2025), romances que retratam a juventude periférica em suas tensões e reinvenções. Além de escritor e roteirista, Jessé é fundador do Instituto Marginow, promove ações culturais nas margens. Conversamos com ele sobre o trem como narrativa e a Zona Oeste como território de invenção. Leia abaixo.
Você escreve sobre gente que pouca gente escreve. Quem você acha que ainda falta aparecer nos seus livros e por quê?
Mães que deixam de criar seus filhos pra ser babá e cuidar dos filhos dos ricos. Essas mães vão envelhecendo, seus filhos crescendo, e hoje, na periferia, na favela, estão oferecendo muitos cursos de cuidadores de idosos. E esses filhos, que não foram criados pelas mães, porque as mães eram babás, estão virando cuidadores — e não estão cuidando das suas mães quando estão envelhecendo. Está faltando colocar isso no meus personagens. Estou bolando uma estratégia para escrever um romance em torno desse tema.
Como transformar a Zona Oeste, tantas vezes reduzida a estatística, em território de história, memória e invenção?
A Zona Oeste não é um lugar que deva ser esquecido. A gente tem muita coisa boa, pessoas inteligentes, a cultura pulsa na Zona Oeste. Eu escrevo sempre pensando nela, porque eu quero que, daqui a 200 anos, se alguém estiver pesquisando sobre o Rio de Janeiro e quiser conhecer um Rio de Janeiro de costas pro Cristo, possa conhecer a Zona Oeste. Por isso, meus personagens sempre circulam por lá.
Por um bom tempo, o trem foi seu companheiro de escrita. Hoje, se tivesse que dar um papel pra ele na sua literatura, seria cenário, personagem ou narrador?
O trem teve uma importância fundamental na minha literatura, porque era o lugar onde eu ficava parado, estagnado — mesmo com o trem em movimento, eu sentia minha vida parada. Eram duas horas pra ir, duas pra voltar do trabalho. Então, se eu pudesse escrever uma história envolvendo o trem, o trem seria o narrador.
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